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XXII. ALMA DE ORAÇÃO
O sacerdote reza e
reza muita. Principalmente antes e depois de oferecer o Santo Sacrifício. Maria
Santíssima, a Virgem Sacerdotiza, não podia agir de outro modo. E como toda a
sua vida foi um sacrifício, uma missa perene, todo o dia recomeçada e
recomeçada com novo fervor, também toda a sua vida foi uma oração perene. No
Templo era a sua vida: a oração que a conservava em íntimo comercio com a Divindade.
No lar, todo o tempo livre de suas ocupações, era consagrado a este santo exercício.
Foi em oração que o Enviado de Deus a encontrou quando lhe trouxe do céu a grande
mensagem. E tendo concebido, então, o Verbo Encarnado, começou para ele a grande
oração de toda a vida, que nada mais devia interromper. E agora a dificuldade
já não está em achar Maria em oração, porque orando a vemos em todo o lugar e circunstância;
a dificuldade está em achar Maria distraída da oração. Pois em qualquer lugar
que esteja, ela está ouvindo a voz do Verbo Humanado, falando com o Verbo
Humanado, adorando-O, servindo-O, amando-O... E tudo isso é oração. É nesta atmosfera
que vivia e respirava, naturalmente, a alma gloriosa de Maria; fora dela, seria
a sufocação, a morte. Nem é para admirar. Si os santos todos achavam a sua
força e felicidade na oração, pois bem compreendiam o que significa este exercício
necessário e santíssimo, quanto melhor o compreendia a Virgem, tão cheia de
luzes de Deus. De S. Francisco de Assis escreveu S. Boaventura, que ele orava
tanto e com tal devoção, que, parecia, até se transformara em uma oração viva.
Que diremos nós, então, de Maria? Era a realização mais perfeita do ensinamento
de Cristo: “É necessário rezar sempre e
não deixar de rezar”.
Por isso a escola de
Maria foi, sempre, uma escola de oração. E todos os que a têm frequentado, têm saído
dela mestres insignes. Basta abrir a vida de qualquer verdadeiro devoto de
Maria; será, sem dúvida, uma vida de oração. Lê-se na história de S. João
Berchmans que ele rezava com tal concentração e piedade, que muitos colegas e
confrades seus vinham ajoelhar-se bem junto dele, para que o seu santo fervor
se lhes comunicasse. Que se dirá, então, daqueles que, para rezar, se ajoelham
bem perto de Maria em oração? O resultado é certo. Pois a oração da Virgem é
semelhante ao incenso, de que fala o salmista, que se evola graciosamente até
aos céus, levando consigo as orações dos fiéis que a ela estão unidos. É a águia
real levando em suas asas poderosas as aguiazinhas que ainda não sabem voar.
Como era forte a oração de Maria, quando na terra! Ela foi — depois do Verbo
feito Homem — o traço de união mais poderoso que ligou a terra aos céus. Se
toda a alma, em estado de graça, é um templo vivo de Deus, como não seria a
alma gloriosa de Maria, iluminada de contínuo pelos fulgores de sua oração
sublime? Por isso ela foi proclamada feliz, pois que escolheu a melhor parte,
que ninguém lhe poderá roubar.
Como é a nossa
oração? É apenas um mover de lábios? Um recitar de fórmulas convencionais?
Honramos nós a Deus com a boca, tendo bem longe Dele o nosso coração? Então não
nos devemos admirar que a oração nos pareça aborrecida e árida. Rezar é
conversar com Deus, é falar em intimidade com Ele, como o filho fala com seu Pai.
É dizer-Lhe que O amamos; é expôr-Lhe o de que precisamos. Tudo com suavidade,
tudo com paz. Rezar é avivar a nossa fé e “encostar — na expressão do P. Faber
— os nossos lábios purificados nos ouvidos misericordiosos de Deus”.
Ó MARIA, Mestra da
oração, ensinai-nos a rezar, em espírito e em verdade. Alçai-nos a intimidade
com Deus, fonte de todos os bens. Assim seja!
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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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