XX. ALMA JUBILOSA
A Igreja que, na sua
liturgia, chama à Virgem “Rainha dos Mártires”, lhe chama também “Causa da
nossa alegria”. Ora, ninguém dá o que não tem. Se Maria distribui entre seus
filhos o belo dom da verdadeira alegria, é porque ela a possui em abundância.
Nem podia ser de outro modo. Pois não é a alegria um presente do céu? E que
haverá lá pelo céu, de belo, de bom, de elevado, que Deus Nosso Senhor não tenha
concedido a sua Mãe? Nem teria sido perfeita, se não tivesse conhecido a
alegria de Deus. Porque desta, somente, aqui se trata. E não da alegria ruidosa
deste mundo, alegria falsa, fugaz, enganadora. Maria é a nova Judite, cheia de
graça, bendita entre todas as mulheres, a quem a Igreja, com todos os fiéis, saúda:
Ó Senhora, vós sois a alegria do nosso povo... Por isso São Francisco, se bem que
fosse grande devoto das dores da Virgem, não o era menos de suas alegrias.
“Meus filhos, lembrai-vos das alegrias santas
da Mãe do céu!” E, hoje, todos os franciscanos trazem dependurada, à cintura, a
coroa das 7 alegrias da Senhora. E que alegrias! São, por assim dizer, as suas
grandes festas, os dias de seus triunfos íntimos. E o bom franciscano, ao
passar entre os dedos as contas de seu rosário jubiloso, se lembra, em primeiro
lugar, da alegria que experimentou a Virgem ao ouvir da boca do Anjo que era
chegado o tempo da vinda do Messias, e que Ela, cheia da graça do
Senhor... seria... sua Mãe; lembra-se da sua alegria em casa de
Zacarias, ouvindo a saudação inspirada de Isabel; e, continuando o seu rosário místico,
lembra-se do júbilo imenso da Senhora, contemplando o Filho recém nato em Belém
que vinha felicitar a humanidade; e, depois, quando chegaram, de tão longe, os três
reis magos, para verem o Menino, adorá-lo, presenteá-lo; e, decorridos mais de
dez anos, o grande júbilo em achando no templo o Menino Jesus que se perdera;
e, depois da semana do grande luto, revendo o divino Filho ressuscitado; e,
finalmente, terminado o seu exílio, quando recebeu a sua coroa de gloria lá no
céu. A dor de Maria foi imensa, mas imensa foi, também, a sua alegria. Alma jubilosa!
De um júbilo, grandemente, comunicativo; por isso a cristandade a invoca: Causa
da nossa alegria, rogai por nós! E Santo Agostinho diz: “Eva chorou; Maria
exultou! A Mãe da nossa raça nos trouxe a tristeza; a Mãe de Deus, a alegria!”
E o bem aventurado dominicano Henrique Suso costumava repetir: “com Maria, é
tudo prazer e alegria; sem Maria, é tudo tristeza, é tudo dor”. Quantas vezes
já o experimentamos nós também esta verdade!! Sofremos, mas se nos achegamos a
nossa Mãe celeste, o nosso sofrimento se transmuda para logo em consolação. É
mais ou menos, o que dizia S. Bernardo de Claraval: “Todas as vezes que penso
em Maria, sinto em meu coração uma alegria que excede a todas as alegrias
terrestres e suaviza todas as dores”. Eis por que, em tom profético, exclama a
Igreja em sua liturgia mariana: A tua natividade, ó Maria, significa um gáudio
imenso para o mundo inteiro! Afinal, o Criador enviou a Virgem à terra, para
que não faltasse a esta a alegria da sua intercessão, assim Cristo a levou às
bodas de Caná, para que lá não faltasse a intercessão da sua alegria. Assim que
as almas mais alegres são as mais devotas de Maria. Basta lembrarmo-nos de S.
Francisco, o Irmão Sempre-alegre!
Possuímos nós a
Verdadeira alegria? Ou vive triste a nossa alma, aborrecida, desanimada? Qual
será a causa? “Meu irmão, estás triste? — perguntava o Patriarca de Assis —
cometeste então algum pecado? vai, confessa-o e alegra-te de novo, no Senhor!”
Admirável doutrina! Só o pecado, só o mal é causador de uma tristeza triste. A tristeza, que vem de Deus, e
que Cristo, mais do que ninguém, experimentou lá no Getsemani, é, por assim dizer,
uma tristeza alegre. Que mortifica, sim, mas que não perturba; que abate, mas
que não desanima; é frutuosa, sempre fecunda, nunca estéril, nunca inútil.
CAUSA da nossa
alegria, Senhora dos prazeres, derramai em nossas almas o óleo santo da
alegria, que é forte, que consola, que trabalha, que voa! Alegria santa,
prenuncio da alegria do céu. Assim seja!
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Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
Do Livro: A Alma Gloriosa de Maria - Frei Henrique G. Trindade, O.F.M. - 1937 - segunda edição
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